As Palavras de Jo
Ficha Artística
Encenação, Espaço Cénico e Interpretação João Branco
Música Nuno Tavares
Movimento Janaína Alves
Figurino Bid Lima
Tema Musical Victor Duarte
Desenho de Luz Paulo Cunha
Preparador Físico Dje Neves Lima
Fotografia Bob Lima, Helder Doca, João Vagos e Zé Pereira
Produção Saaraci Coletivo Teatral
Duração 50 minutos
Classificação etária: maiores de 14 anos
Sobre o espetáculo
Toda e qualquer obra de arte tem a intenção (anseio/fim/destino) de nos desafiar, nos tocar, nos revolver, nos envolver, (re)mexer (n)as nossas entranhas - confrontando-nos connosco mesmos. E se ela não é capaz de fazer isso, mesmo que se escude na magnánima natureza de ser “arte pela arte”, algo faltará no seu âmago. Em As Palavras de Jo, somos confrontados com uma poderosa obra visual e poética à qual muito dificilmente se consegue ficar indiferente. Na história bíblica de Jó, Deus deixou que Satanás tocasse Jó, lhe tirasse os (seus) filhos, os (seus) bens e que o (seu) corpo se enchesse de uma lepra maligna. A esposa de Jo suplicou que ele blasfemasse contra Deus e morresse. Os amigos de Jo vieram e pediram a mesma coisa. Indagaram. Insistiram. Contudo, Jo manteve-se fiel a Ele.
Ora, o Dramaturgo Matei Visniec oferece-nos um alter-texto, uma leitura outra, um outro Jo. Num local determinado, num universo intemporal, apresenta-se Jo que brada: “Eu acredito no Homem. Sim, acredito no Homem!”. Um Jo que (também sofre). Um Jo que quando outros homens matam os filhos (dele), quando cortam a língua (dele), quando cobrem o (seu) corpo de sangue, quando dileceram o (seu) corpo, quando o atiram para a podridão absoluta, quando o enterram vivo, mesmo assim, ele se mantém firme e de forma apaixonada, mantém a sua crença: “sim, eu acredito no Homem!” Solta-se a mensagem, o dizer e o ato da fala produz um novo estado de coisas.
O espetáculo é servido com música de Nuno Tavares, que a compôs originalmente em processo criativo, e a interpreta ao vivo e à vista, transformando este espetáculo também num diálogo profundo e permanente entre a poesia e a música. E é um Jo humano que fala para o público, olho no olho. Um homem falando com outros seres humanos. Dizendo que acredita neles, em cada um deles que ali está, em harmónica presença. Este Jo criado por Matei Visniec, é um Jo que ergue a palavra “celebração”, ancora-se na palavra “amor”, despede-se sublinhando a importância da palavra “palavra”.
COMENTÁRIOS
Repetir esta obra, mais e mais vezes, é, sobretudo, uma necessidade.
Nossa condição humana é exposta e nos faz transcender a forma. A interpretação de João Branco é potente, sensível, contundente.
Um bálsamo para os ouvidos e um alento ao coração.